16/03/2012


Infância

(Flávio Villa-Lobos)



Felicidade tão perto, voraz


percepção do novo,


tempo bastante para desperdiçar


o hoje.


Vivas lembranças do ainda


ontem,


o amanhã tão longe.




Sabor de morango, chuva


no quintal.


Latido de cão,


a rã no bolso da calça


- nada mais natural,


mamãe...


Atiradeira invencível,


pedaços de vidro


espalhados pelo chão.




O cheiro de hortelã,


pipa no ar.


Caminho de terra,


relva úmida,


a casa da vovó.


Um silêncio estranho,


familiares distantes chegando.


- Papai...o vovô


não quer mais brincar.




Bola de gude, bola de meia


a correr pela rua,


sempre no rastro


da lua cheia.




- Menino, já para cama!


O quarto-esconderijo, prendendo


minhas asas de anjo.




Medo do escuro,


segredos no porão.


Mariazinha não tem medo não...


O primeiro beijo é assim mesmo?


Ah!... nunca mais viver


aquela sensação.




Liberdade até andar


entre gigantes.


Será que um dia ainda vou?


Natal de muitas


árvores,


presentes tão bons e tantos.


Mamãe chorava


nessas horas...


meu pai escondia o pranto.




Quando eu crescer, quem sabe?


De repente, estampada no palavrão


- maioridade -


o prenúncio da dor.


Acabou-se o que era doce...


quero voltar, por favor.